Ao longo do mês de Junho, presenciamos um alarde do mercado financeiro com diversas notícias pessimistas sobre as quedas da Bolsa Brasileira no primeiro semestre de 2024. Mas a Bolsa Brasileira está péssima mesmo? Vamos conversar aqui sobre o contexto dessa situação, sobre a realidade do mercado e sobre o que podemos aguardar ao longo do ano.
Queda na Bolsa de Valores
Antes de falarmos sobre a queda na Bolsa de Valores, é importante entender que o mercado financeiro normalmente faz um alarde no ambiente de notícias, porque isso gera movimento de pânico, e também pode forçar uma manipulação de preços para que os grandes agentes econômicos possam fazer suas compras e vendas como bem entendem. Isso é uma questão sistêmica no mercado financeiro global, e ocorre desde sempre.
Em relação ao momento atual do Brasil, de fato, desde o final de Dezembro de 2023 o mercado se encontra em quedas constantes, com algumas correções ao longo do caminho. Porém, em Dezembro do ano passado, a bolsa alcançou níveis máximos nunca antes alcançados. Isso pode ser visto pela foto abaixo. Pode-se perceber pela foto que a Bolsa tentou recuperar após encontrar um fundo em torno de 123.000 pontos em Abril, mas continuou o processo de quedas desde então. Na última semana a Bolsa buscou por um respiro, mas sem previsão para garantias de quedas finalizadas.
Esse cenário de pessimismo é fortemente visto pela alta saída de Dólar do país, refletido pelo preço de $1 Dólar estar valendo hoje R$5,4292 reais, como mostrado na foto abaixo. O preço está chegando ao topo histórico de Março de 2020 no período da pandemia.
Dois motivos principais estão pressionando essa fuga de capital estrangeiro no país. O primeiro motivo é devido ao mercado americano que vem atraindo investidores a alocarem suas finanças em um mercado seguro e atualmente muito atrativo. O segundo motivo é pela política fiscal nacional que vem prejudicando a imagem de uma economia estável para os investidores.
Mercado Americano
O primeiro motivo é decorrente da economia americana, que está sofrendo com uma política monetária restritiva há muitos meses. A taxa de juros em 5,25-5,50% a.a. faz com que os Títulos Públicos americanos sejam extremamente atrativos. O mercado de lá também se encontra mais pessimista quanto aos cortes de juros. Alguns analistas prevêem um corte de juros nesse ano, ou até acreditam que o FED vai iniciar o corte de juros apenas ano que vem.
Como o segundo semestre continuará restritivo por lá, é mais atrativo para o capital estrangeiro migrar para lá. E esse é o movimento que eles estão fazendo ao longo dos meses, o que gera quedas persistentes na bolsa brasileira. Somente em 2024 a bolsa já viu mais de R$40 bilhões serem removidos pelo capital estrangeiro. O impacto desse movimento na bolsa brasileira é muito significante, já que 54% da fatia dos investidores é composta por estrangeiros. Ainda temos poucos investidores compostos por pessoa física, comparado com outros países como os EUA, por exemplo.
Fonte: Rico Corretora, B3
Economia Interna
A questão fiscal do país pressiona no desinteresse internacional pela economia interna. O afrouxamento das metas orçamentárias traz uma impressão de que as contas públicas não podem estar saudáveis financeiramente, e o país pode não cumprir com os acordos financeiros no médio e longo prazo. Como o Brasil é visto como um país de risco para instituições internacionais, facilmente a interpretação pode ir nesse viés.
Em Abril de 2024, o governo apresentou o Projeto de Leis de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), mudando as metas fiscais para os próximos anos. A meta era zerar o déficit fiscal por este ano e já alcançar o superávit ano que vem. Agora o superávit mudou para 2026, com metas de 0,25% em 2026, 0,5% em 2027 e 1% em 2028. O mercado não recebeu bem as mudanças. Inclusive, o Presidente do Banco Central, Roberto Campos, mencionou que manteria uma política monetária mais restritiva. Isso pressiona a bolsa, especialmente os Fundos Imobiliários que vêm apresentando quedas. Já os investimentos em renda fixa têm se mostrando mais vantajosos, comparados com alguns setores de fundos. As empresas privadas também sofrem com o fluxo de caixa devido ao excesso de despesa financeira (com pagamento de dívida com juros mais altos no momento). Isso faz com que a pressão para quedas nos preços de ações e cotas imobiliárias aumente.
Uma outra perspectiva…
Cabe salientar que essa questão fiscal é uma parte vista sobre a situação da economia brasileira. Em relação a outros indicadores, a economia percorre uma trajetória mais equilibrada. O PIB se mostrou positivo no primeiro trimestre de 2024, impulsionado especialmente pelo setor de bens e serviços. Esse setor cresceu 0,8% em relação ao trimestre anterior, e cresceu 2,5% em relação ao mesmo período do ano passado. O aquecimento do PIB é acompanhado pela maior oferta de empregos que aumentou o consumo de bens e serviços em especial. No primeiro trimestre, a taxa de desocupação atingiu um nível baixíssimo, comparando com dados dos últimos 10 anos. E mais de 700 mil empregos foram abertos no mesmo período.
Portanto, perceba que as narrativas também seguem num fluxo de mercado em que muito pode estar sendo manipulado ou forçado para que decisões sejam tomadas de maneira precipitada. Por essa razão, caro leitor investidor, aproveite boas empresas e fundos imobiliários com boa qualidade e com preços descontados. Como diz Warren Buffet, comprem ao som dos canhões! No Brasil, o P/L está em 8x o lucro. Nós podemos desacelerar os nossos aportes acima de 11x o lucro, o que não é ainda o caso.
Fonte: Oceans 14